Eu sempre fui boazinha. Muito legalzinha.
Quase não consigo me lembrar de quando, se quando, eu disse que não queria exatamente daquele jeito. De quando priorizei minha vontade em vez da do outro. De quando recusei convites em prol dos meus próprios planos. Ou dos nãos que não me fizeram mergulhar em culpa e medo de ficar sozinha. Dizer não sempre foi sinônimo de abandono, de rejeição, de solidão, de desapontamento.
O fato de eu ter um ascendente em Libra nunca foi de muita ajuda nesse processo. Libra, muitas vezes, pode priorizar a paz, a harmonia, o bem estar coletivo em detrimento da sua própria vontade. A paz aqui pode encobrir muitas mágoas reprimidas, vontades não expressadas e insatisfação que cresce e contamina os relacionamentos igual erva daninha. É difícil para o libriano ou quem tem esse signo forte no mapa encarar a indisposição de se posicionar a favor de si mesmo e de sua paz, ainda mais quando essa paz abala a harmonia coletiva.
Ser legal demais me trouxe muitas coisas boas, não nego. Pessoas em sua grande maioria sempre foram gentis comigo. Eu fiz muitos amigos naturalmente, sem me esforçar um pingo para isso. Eu tinha a amizade de pessoas em diversas escalas, do faxineiro ao diretor da empresa. Essa diplomacia natural me ajudou a ser vista como a mediadora, a que é boa em resolver conflitos (dos outros, que fique claro). A que por conseguir enxergar e entender diversos pontos de vista, sabia exatamente onde estava desequilibrada a balança. Onde reajustes são necessários. Onde o equilíbrio e a harmonia haviam se perdido.
Mas, em se tratando de mim, ser legal me colocou em diversas situações, no mínimo, complicadas. Desequilibradas. Porque todo esse dom de diplomacia, desejo por paz e harmonia pessoal, encobriram o medo de nunca ser aceita, amada e respeitada por quem eu sou de verdade. O medo de que, se eu falasse NÃO, o outro rapidamente iria embora. Por que a versão de mim que o atraiu, para início de conversa, havia sido uma versão minuciosamente calculada, estudada e projetada para agradar e se encaixar a todas as necessidades e desejos do outro. Era real, mas não autêntica. Era alguém, mas não eu.
Ser eu tem sido uma descoberta diária. E nessa descoberta os NÃOS que tenho aprendido a falar é o que está verdadeiramente me mostrando quem ainda se encaixa na minha vida. Encarar a solidão que vem quando me posiciono é necessário. Porque ela é real, existe, não tem como fugir. Aceitar que pessoas têm o direito de ir embora porque não mais estou disposta a ceder também machuca, bate num lugar de -ainda- indignação, o lugar que se questiona “Depois de tudo o que fiz e aceitei por fulano”. Sim, exatamente isso. Porque o mesmo direito que tenho de estabelecer limites de presença e convivência, o outro também tem. Mas dói. E a dor é humana. Tá tudo bem.
Dizer não me faz as vezes chata, e quem gosta de gente chata? Me priorizar, por vezes me isola, mas tá tudo bem. Quebrar expectativas externas tem aos poucos se tornado quase como um jogo, não para o outro, mas pra mim mesma: Qual não eu vou dizer hoje que vai me mostrar quem fica ou quem vai?
Quem for ficar, eu sei que ficará por mim. Por quem eu sou de verdade. Quem conseguir me ver, também conseguirá ver a pessoa que está em transição, que está se tornando.
Mas, que sorte de quem ficar, nunca antes eu fui tão eu mesma.