Malèna como arquétipo da Lilith

Recentemente, eu atendi alguns clientes que trouxeram algumas dores referentes ao posicionamento da Lilith no mapa natal. A maioria delas está com esse posicionamento em casas relevantes ou de visibilidade pública, como a casa 1, 7, 8 e 10. Quando acontece de uma Lilith cair nessas casas, o nativo vai, mais profundamente, sentir o impacto das feridas que esse arquétipo carrega. 

Um caso específico, no entanto, me fez refletir: uma cliente possui a Lilith em Peixes na casa 10, e nessa reflexão acabei encontrando uma correspondência com a personagem Malèna, interpretada por Monica Bellucci, no filme Malèna.

Malèna é um drama italiano dirigido por Giuseppe Tornatore, ambientado na Sicília durante a Segunda Guerra Mundial. A história é narrada pelos olhos de Renato, um garoto de 13 anos que, ao lado dos colegas, vê pela primeira vez Malèna Scordia — uma jovem mulher recém-chegada à pequena cidade, bela a ponto de se tornar obsessão e alvo de comentários maldosos.

Acabei fazendo algumas observações sobre essa conexão, e ele vale não apenas para quem tem a Lilith em Peixes na 10, mas também na casa 1, 7 ou 8. Também vale para a Lilith em Escorpião e Libra, que também viram alvo de muitas projeções, assédio e rejeições, pelo feminino não curado e masculino imaturo e ameaçado. 

Malèna como arquétipo da Lilith em Peixes

Lilith é o ponto da recusa em se submeter, a sexualidade não domesticada, o magnetismo que incomoda porque não pede permissão para existir.

Em Peixes, ela ganha o toque do “projetado”: as pessoas não veem a pessoa real, mas sim a fantasia, a ilusão ou o medo que carregam dentro delas. É como se a mulher fosse um espelho para desejos e sombras inconscientes.

Na Casa 10, isso tudo acontece de forma pública. A imagem dela é exposta, comentada, julgada — ela vira “assunto” na cidade, no trabalho, na comunidade. É amada e odiada pelo que representa, e não necessariamente pelo que é.

No caso da Malèna, isso gera:

1. Assédio masculino — não é só desejo, é desejo misturado com transgressão, porque a presença dela mexe com o imaginário e desafia limites sociais.

2. Inveja e hostilidade feminina — mulheres a atacam para reafirmar suas próprias “posições de respeito” no grupo, projetando nela o papel de “ameaça”.

3. Isolamento social — como Peixes também fala de dissolução, a pessoa pode sentir que ninguém realmente a vê; todos projetam algo nela.

4. A prova pública — a vida “julga” essa Lilith no palco social, seja pela aparência, pela reputação ou pela liberdade que inspira.

O mais forte é que Malèna mostra exatamente o que acontece quando Lilith não tem voz.

Ela não reage, não fala, não se defende — e o silêncio é preenchido pelas histórias que inventam sobre ela. Isso é muito Lilith em Peixes: se não há uma narrativa própria, a narrativa coletiva toma conta.

No mapa, esse ponto poderia virar uma chave de ouro: a importância do nativo assumir a construção da sua imagem pública, em vez de deixar que outros decidam quem ele é.

A personagem vive exatamente esse tipo de história: amada e desejada por muitos, mas também alvo de inveja, julgamento e exclusão social.

A Lilith representa um ponto de magnetismo e poder que não pede permissão para existir. É a sua energia bruta, intensa, que desperta reações fortes nos outros. Em Peixes, essa energia se manifesta de forma muito sutil e psíquica: as pessoas não enxergam você como realmente é, mas sim como elas imaginam que você seja. Você se torna um espelho para as fantasias, os desejos e até os medos inconscientes delas.

E como essa Lilith está na Casa 10 — o palco público, da imagem social e da reputação — tudo isso acontece à vista de todos. A sua presença mexe com o imaginário coletivo. Homens podem sentir um desejo misturado com transgressão, como se sua energia os atraísse para além do que é “permitido”. Mulheres, por outro lado, podem projetar em você a figura da “ameaça”, atacando-a para reafirmarem a própria segurança e lugar social.

Assim como Malèna no filme, muitas vezes a narrativa sobre você pode ser construída por outros, e não por você. Se você não ocupa esse espaço contando a sua própria história, o silêncio é preenchido pelas fantasias alheias — e, em geral, de forma distorcida.

O seu caminho de cura e empoderamento aqui é assumir o controle da sua imagem pública. É decidir conscientemente como quer ser vista e, mais do que isso, viver de forma alinhada com a sua própria essência — sem tentar se esconder, mas também sem se deixar definir por olhares externos.

Lilith em Peixes na 10 pode ser um símbolo de dor, mas também de libertação. Quando você transforma esse magnetismo em uma força consciente, você deixa de ser apenas o personagem da história dos outros e passa a ser a autora da sua própria narrativa.

Essa análise, como dito anteriormente, também vale pra quem tem Lilith nas casas 1, 7, 8, e os signos de peixes, escorpião e libra vão sentir de forma mais profunda e intrínseca essas características e projeções. 

Mas isso não impede que você, com a Lilith em outro signo ou outra casa se sinta identificado com essa descrição, porque afinal de contas, a Lilith sempre vai atrair, de acordo com a casa em que está, pessoas que inconscientemente vão projetar suas raivas e frustrações no nativo.  

A cura, no entanto, para todas elas, está em se apoderar de si mesmo. Indesculpavelmente ser você mesmo, sem medo de incomodar, ser rejeitado, excluído ou abandonado. 

Uma Lilith em seu pleno poder de ser, atrai para si pessoas que vibram como ela, que a respeitam por assumir ser quem é. Cria e lidera sua própria tribo a partir de um lugar de presença e não conformismo com amarras e prisões que nunca lhe couberam.

Ela inspira outros a se libertar. E o que antes era dor, agora é poder.

Deixe um comentário