
Existe um lugar nas relações onde se esconde os medos mais agudos. Um limbo de espera. De expectativas. De desejos nunca realizados.
A gente demora pra perceber. Demora pra cair em si e olhar em volta e ver o quanto de tempo você gastou esperando por um retorno de um acordo que nunca foi feito. Um combinado que nunca foi conversado. Ou um amor nunca correspondido.
É no limbo dessa espera que estão guardados seus medos do abandono, da solidão, de ficar sozinho. Medo de seguir em frente, de desapegar, de deixar morrer seus sonhos.
Todo início de qualquer relação guarda uma expectativa, ainda que nunca revelada: que ela dê certo, frutifique. Que ela cure as feridas que sobraram. Que devolva o brilho perdido. Que preencha um espaço dentro da gente. Que seja tudo aquilo que as outras não foram.
Mas e quando não é? E quando não pode ser?
Existem relações que já nascem fadadas, não por serem defeituosas, mas simplesmente por não terem o potencial de SER. Ser completa. Ser recíproca. Ser justa. Ser saudável. Ser leve. Ser intensa. Ser verdadeira. E tudo o que não pode ser em essência, tem um prazo para terminar. E mesmo que nada dure para sempre, pelo menos, que dure o maior tempo possível.
Queremos o máximo de permanência dentro da impermanência. Queremos o pra sempre no “até um dia”. Queremos muito no que às vezes é tão pouco. E por tanto querer, tanto desejar, tanto esperar, não conseguimos dizer não ao final. E esperamos. Dia após dia.
E essa espera, mais do que de querer, é cheia de medos: medo de soltar. Medo de deixar o outro ir. Medo de sofrer. Medo de nunca mais achar aquela exata fagulha que acende quando o outro sorri de uma determinada maneira. Medo de nunca mais sentir aquele arrepio na pele quando a pele é tocada. Medo de nunca mais sentir aquele cheiro, rir aquela risada, ter aquela conversa. Medo de nunca mais ser visto. Ser entendido. Ser amado.
Toda espera é apenas medo. E toda espera guarda o pior medo de todos: de olhar em volta e perceber que enquanto você não solta o que te prende por não querer ficar sozinho, o outro já se foi. E sozinho, você já está.
Mas ainda está esperando.